Pacientes com câncer de próstata podem ter até 50% de sobrevida com exercícios

São Paulo 8/12/2020 – O exercício físico cumpre o papel de fortalecer o organismo para responder aos impactos da doença e aos efeitos colaterais do medicamento ou procedimentos.

Estudos apontam que exercícios físicos reduzem os riscos de desenvolvimento, mortalidade e reincidência de diferentes tipos de câncer. Fabio Ceschini, especialista em fisiologia do exercício, orienta pesquisar um profissional que saiba prescrever treinos nessa situação.

Há evidências crescentes de que exercícios físicos regulares podem influenciar no desenvolvimento do câncer ou na taxa de crescimento do tumor, uma vez que a malignidade tenha iniciado. Dados publicado no artigo ‘Physical Activity in Cancer Prevention and Survival: A Systematic Review’ (Atividade Física na Prevenção e Sobrevivência do Câncer: uma revisão sistemática), pela American College of Sports Medicine, que analisou centenas de estudos epidemiológicos sobre o assunto, apontam que praticantes de atividades físicas têm até 20% menos risco de desenvolver variados tipos da doença.

O trabalho ainda traz números da correlação entre a atividade física e a sobrevida de pacientes. Estando em segundo lugar no ranking de incidência entre homens no mundo, inclusive no Brasil, o câncer de próstata pode ser menos fatal para os praticantes de exercícios físicos, que têm 49% menos risco de mortalidade por diferentes causas e 38% pelo próprio câncer. Para o câncer de mama, a redução é de 48% e 38%, respectivamente.

Aliado do tratamento – Mas por que é tão importante treinar quando é descoberta a doença? De acordo com Fabio Ceschini, especialista em fisiologia do exercício e fundador do Viajando pela Fisiologia, projeto de capacitação em prescrições de treinos, sobretudo de exercícios físicos para alunos com doenças crônicas, uma das razões é que a contração muscular ocasionada pelo exercício produz proteínas chamadas de Miocinas que têm função anti-inflamatória e atuam em vários órgãos do corpo, como cérebro, fígado, tecido adiposo, intestino, pâncreas e ossos, colaborando na prevenção e no tratamento do câncer.

Ceschini também explica que o tratamento da doença impacta na perda da capacidade de transporte de oxigênio, aumento da fadiga e do risco cardiovascular, o que significa menos autonomia funcional e, portanto, mais sedentarismo, perda de massa muscular e maior suscetibilidade a outras doenças. “O exercício físico nesse caso cumpre o papel de fortalecer o organismo para responder aos impactos da doença e aos efeitos colaterais do medicamento ou procedimentos no organismo. Há uma melhora significativa na incontinência urinária, comum após a prostatectomia (cirurgia na próstata), por exemplo”, informa.

O especialista destaca ainda que o paciente que continua treinando no período pós-tratamento tem menos risco de ter uma reincidência do Câncer.

De olho no profissional – Ceschini orienta que a escolha do professor de educação física nesta situação será crucial. Segundo ele, poucos profissionais da área têm conhecimento específico sobre prescrição para doenças crônicas e, principalmente, câncer. “No caso do câncer, se feito um treinamento incorreto, com excesso de volume e intensidade, isso poderá alterar de forma significativa o tratamento, interferindo na ação do fármaco ou mesmo colaborando para o aumento de um tumor”, frisa.

Em um levantamento realizado com 610 profissionais de educação física, de 74 academias de São Paulo, relacionado ao conhecimento sobre prescrição de treinos para alunos que estão em tratamento do câncer, apenas 9% disseram saber fazer sessões de treino aeróbico e 4%, de resistência (como equipamentos, pesos livres e elásticos).

Treino nas fases de tratamento – contudo, o especialista alerta para a importância de escolher um treinador que tenha domínio na prescrição de treinos para cada fase do tratamento, pelo fato de serem períodos com objetivos e sobrecargas diferentes.

A seguir, cita algumas orientações:

Pré-tratamento: período de quando o aluno recebe o diagnóstico até o começo do tratamento. Nesta fase, deve-se buscar no exercício o preparo do corpo para o tratamento. Sabendo que a força, o consumo de oxigênio e a aptidão do sistema cardiorrespiratório irão diminuir na próxima fase, o profissional de educação física deverá dar um ‘up’ nessas funções para colocar o aluno em um nível superior de condicionamento com relação a um indivíduo que não se preparou. A orientação é continuar com os modelos de exercícios e de cargas – se o aluno faz musculação, continuar com musculação. Natação, continuar com ela – e aguardar do profissional por um treino de otimização daquelas funções e, especialmente, da imunidade.

Tratamento: aqui, o foco será atenuar os efeitos colaterais, como inchaços e edemas, e a toxicidade do tratamento. O ideal é que cargas e frequência de treino sejam diminuídas. Se o treino acontecia cinco vezes por semana, o ideal é que passe para três ou menos, a depender de cada caso. Cuidado também para não estressar excessivamente os músculos, pois a ação dos medicamentos acarreta uma menor capacidade do músculo de autorregeneração. Para os treinos o ideal é que sejam realizados em até 40 minutos. Segundo ele, após esse tempo o aluno começa a ter muita resposta de hormônios inflamatórios liberados no corpo. A orientação é que as sessões aconteçam apenas duas semanas após o início do tratamento.

Pós-tratamento: o chamado ‘período de sobrevivência’, quando o paciente recebe alta médica e tem um período de, pelo menos, cinco anos para saber se houve reincidência. Nesta etapa, o treino é fundamental no processo de recuperação. Caminhadas e pedaladas são indicadas com frequência de até três vezes por semana, em dias alternados. As cargas de treino, tanto em volume quanto em intensidade, podem retornar ao que era no período pré-tratamento, porém com duração entre 30 minutos e 1 hora.  

Ceschini frisa ainda que a condução dos treinos deve ser feita com o conhecimento do médico que conduz o tratamento, conforme o estado atual de saúde e as reações do aluno. Por exemplo, segundo ele, se o nível de plaquetas estiver muito baixo, o aluno é suscetível a hemorragia e não pode treinar.

Observar sinais de intolerância ao esforço, evitar treino intenso e em dias consecutivos, além de seguir fielmente as prescrições e interrupções necessárias também são essenciais para um treino seguro e aliado ao estado de cura e bem-estar.

Informações Viajando pela Fisiologia
WhatsApp: (11) 97403-8856

Website: https://www.viajandopelafisiologia.com.br/

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